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sábado, 14 de janeiro de 2012

Na religião, como na política e nos costumes, há rebeldia. Os filhos não seguem os pais em suas crenças.
Embora exista uma tentativa de fazer frente ao apelo pop dos evangélicos, a imagem da Igreja Católica parece velha para boa parte dos jovens. Quando um bispo tenta impedir que uma menina de apenas 9 anos possa fazer aborto após ter sido estuprada, contrariando uma garantia legal e uma recomendação médica, ele contribui indiretamente para afastar do catolicismo até jovens fervorosos. A assistente social Renata Carvalho da Silva, de 28 anos, foi secretária estadual da Pastoral da Juventude de São Paulo. Renata trabalhava pela formação de jovens. Quando coordenou um serviço de mulheres vítimas de violência em Guaianases, na Zona Leste, deparou com o que lhe pareceu uma contradição do catolicismo: “Os argumentos em defesa da vida são contraditórios. Se você tem relações sexuais sem camisinha corre risco. Que defesa da vida é essa?”. Renata acabou se afastando do dia a dia da igreja. “Continuo católica, minha fé não mudou, mas quase não vou mais às missas. A fé não depende da Igreja para existir”, diz ela.
A socióloga Dulce Xavier, do grupo Católicas pelo Direito de Decidir, diz que as posições intransigentes da Igreja afastam os jovens. “A Igreja Católica está parada no tempo na questão das liberdades individuais. O jovem é contestador, não aceita isso”, diz Dulce. O teólogo Fernando Altmeyer, professor da PUC de São Paulo, diz que a igreja acredita e quer, sim, que seus fiéis sigam os preceitos. Ele diz que o papa Bento XVI tem seguido uma linha coerente: prefere um cristianismo de qualidade, mesmo que minoritário. “Essa tem sido uma discussão na Igreja ao longo dos séculos. Até agora, tem prevalecido que Igreja não vai barganhar seus valores em busca de popularidade”, diz Altmeyer. “Questões como a defesa da vida e o sexo com amor, para reprodução, são eternas.” Altmeyer acredita que o jovem tem dificuldade de seguir os preceitos religiosos por fatores que vão além da rigidez. Para ele, o grande desafio dos católicos é contextualizar seus valores e explicá-los aos jovens de uma forma que eles entendam. “Embora o tema seja o mesmo, o discurso não pode ser”, afirma.
Um sinal da dificuldade da Igreja Católica – e não só dela – em atrair os fiéis jovens é dado por uma característica intrigante dessa nova religiosidade. “Comparado a outras sociedades, o Brasil tem um grande número de jovens que se dizem religiosos, mas a intensidade com que eles vivem a religião é menor que a dos mais velhos”, diz Matthias Jäger, diretor do instituto alemão Bertelsmann Stifung. Quando a pesquisa feita pelo instituto perguntou sobre a prática da fé, somente 35% dos jovens brasileiros disseram viver de acordo com os preceitos religiosos. Esse porcentual foi de 84% na Nigéria, de 53% em Israel e de 52% na Itália. O índice brasileiro de coerência religiosa é, portanto, dos mais baixos.

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